Avançar para o conteúdo principal

Um Conto que Contas - Natal na Vila da Geometria


No âmbito do concurso "Um conto que contas", promovido pela Sociedade Portuguesa de Matemática, uma equipa da nossa escola decidiu participar, produzindo um conto e respetiva ilustração.
De sessão em sessão, o trabalho foi-se desenrolando; o conto começou a ganhar forma, dando lugar ao produto final que , na nossa opinião foi bem conseguido.  Foi um trabalho de articulação muito enriquecedor, quer ao nível da Língua Materna, quer no domínio da Matemática, já que permitiu recordar e até consolidar muitos dos conteúdos trabalhados ao longo dos dois últimos anos letivos.
O facto de termos alcançado uma menção honrosa, deixou-nos muito orgulhosos e com vontade de participar em novos desafios.
 Professora Céu Pereira


NATAL NA VILA DA GEOMETRIA

É Natal na vila da Geometria!

Há uma grande azáfama nas suas ruas, ora paralelas, ora perpendiculares, de vez em quando interrompidas por rotundas circulares.
Numa dessas rotundas está montada a árvore de Natal, em forma de cone, enfeitada com dezenas de figuras luminosas: quadrados, retângulos, triângulos, pentágonos…, de cujos vértices saem filamentos dourados a perderem-se de vista, como semirretas das quais se conhece o princípio mas não o fim.
Há ruas com números pares e ruas com números ímpares. Na rua 27 fica a igreja, um edifício robusto, em forma de paralelepípedo, com um telhado semelhante a uma pirâmide quadrangular.
Nesta vila os habitantes são todos sólidos geométricos: os homens são poliedros, uns grandes, outros pequenos, mas todos de linhas direitas, senhores do seu nariz, que não é mais do que um dos seus vértices. As mulheres são todas não poliedros, mais ou menos roliços, mas todas elas com curvas, como convém aos seres do sexo feminino.
Uma das famílias desta vila era constituída pelo pai, um paralelepípedo de grande volume, que impunha o respeito e a ordem na casa; a mãe, uma esfera média que passava o dia a rebolar pela casa, atarefada nas lides domésticas; o filho mais velho, um cubinho de faces pálidas e arestas frágeis que por vezes o faziam cambalear; e finalmente a filha mais nova, um cilindro bebé que rolava constantemente pelo chão à procura da chupeta.
De vez em quando, entre tanto rebuliço, saltavam-lhe as bases, dois círculos congruentes de pequeno diâmetro. Era o irmão, o cubinho, que com alguma dificuldade a ajudava a colocar as tampas novamente.
Era uma família solidária e, nesse Natal, decidiram fazer algo para ajudar as famílias mais pobres da vila da Geometria. Havia prismas tão magrinhos que pareciam simples linhas retas, cilindros que tinham crescido tão pouco que se confundiam com círculos, esferas tão raquíticas que quase desapareciam em pequenos pontos…
O primeiro a dar uma ideia foi o filho mais velho, o cubinho, que propôs contactarem o Presidente da Câmara e pedirem-lhe para afixar cartazes pela vila toda, sugerindo a contribuição de todos, com alimentos e brinquedos para os mais necessitados.
O pai, que achou a ideia do seu filhote muito interessante, deu continuidade ao projeto sugerindo que fossem pedir aos bombeiros que deixassem guardar todas as contribuições no seu quartel.
A mãe e a filha concordaram e afirmaram que esta era uma ideia muito boa, mas que iria dar muito trabalho. Mas, tratando-se de ajudar o próximo, não houve qualquer hesitação.
O primeiro passo foi falar com o Presidente da Câmara que aceitou logo a sugestão e prometeu toda a colaboração.
Os bombeiros, com os seus capacetes em forma de semiesfera, também apoiaram o projeto, oferecendo-se para fazer o cartaz. Assim que o primeiro esboço ficou pronto lembraram-se que teria muito mais impacto fazerem um cartaz vivo, junto à árvore de Natal da vila, e que substituiria o tradicional presépio.
Todos ficaram entusiasmados e deitaram mãos à obra, já que era preciso fazer e colar cartazes e ainda organizar o cartaz vivo.
Convidaram alguns habitantes da vila vizinha, a vila dos Símbolos Matemáticos, e fizeram o primeiro ensaio no quartel. Uma frase, escrita ao fundo, apelava à participação de todos: “Ajudem-nos a ajudar os que precisam!”. Do lado direito posicionou-se o pai paralelepípedo que simbolizava o caixote onde se colocariam os alimentos recolhidos; do lado esquerdo a filha, o pequeno cilindro, representando o saco onde se acumulariam os brinquedos. Os voluntários da vila dos Símbolos Matemáticos espalharam-se à volta: o + (mais) representava mais alegria; o – (menos) significava menos lágrimas; o : (dividir) incitava a dividir presentes e o x (vezes) propunha-se multiplicar os sonhos; o > (maior) convidava a um maior sorriso; o < (menor) a um menor sofrimento e o = (igual) apelava a um Natal igual para todos.
O ensaio correu muito bem, por isso dedicaram os restantes dias da semana à afixação de cartazes nos postes e nas árvores. Por toda a vila viam-se cubos encavalitados em prismas, pirâmides encavalitadas em cilindros, cones encavalitados em paralelepípedos… com o objetivo de colarem os cartazes em sítios bem altos e visíveis. Apenas as esferas não puderam participar porque, sempre que tentavam, rolavam sem parar. Por isso ficaram muito tristes por não poderem contribuir com o seu trabalho, achando-se inúteis e desinteressantes. Esqueciam-se que sem elas não havia nem bolas de futebol, nem bolas de Berlim, nem berlindes pequenos e coloridos, nem pérolas brilhantes para fazer colares, nem sequer o planeta da Matemática em que viviam.  Então entretinham-se a cantar pelas ruas tornando o trabalho dos outros menos monótono.

 
Somos esferas felizes,
Estamos sempre a rolar,
Pelas ruas desta vila
Ninguém nos pode parar! 

 
Queremos ajudar os pobres,
Dar-lhes um Natal melhor,
Comida, brinquedos, roupa,
Ou até um cobertor.

 
“Ajudem-nos a ajudar!”
É o lema de todos nós,
Sejam cubos, cones, esferas,
Pais, filhos ou até avós.


O Natal está a chegar,
E com ele vem a magia,
Queremos espalhar amor,
Solidariedade e alegria!

 
E assim, num ambiente ameno e descontraído, a tarefa de colar cartazes foi decorrendo sem qualquer problema. Começou a escurecer e todos regressaram às suas casas para descansar.
 No domingo seguinte a campanha foi um sucesso. Apesar da neve que caía copiosamente, ninguém arredou pé. A rotunda encheu-se de gente, o Presidente da Câmara fez o seu discurso de agradecimento, ora em linguagem natural, ora em linguagem matemática não se esquecendo de mencionar em especial a família que tinha iniciado todo este movimento. Todos os que puderam apareceram com os seus donativos; as fábricas da vila foram os que mais contribuíram. Angariaram-se muitos alimentos e inúmeros brinquedos, que proporcionaram um Natal feliz a todos os habitantes da vila. As crianças apresentaram uma dança ensaiada na escola, pelos professores, cuja coreografia incluía dezenas de árvores de Natal em translações sucessivas, estrelas em rotações estonteantes e pequenos anjos que se multiplicavam em reflexões constantes.
A televisão, o MatCanal, fez uma reportagem no local e algumas imagens foram mesmo publicadas na internet.
Os habitantes das vilas vizinhas viram as imagens, aperceberam-se dos efeitos desta campanha e imitaram-na.
Numa das vilas, a vila dos Números Primos, surgiu um grande problema: como é que se poderiam ajudar uns aos outros se o número de habitantes era infinito? Sim, há mais de 2000 anos atrás o matemático Euclides tinha comprovado esse facto que os deixara de cabeça à nora. E agora, como iriam começar uma campanha que não sabiam quando e onde iria terminar? Mas nem isso os demoveu e iniciaram a sua missão de solidariedade sabendo que ela se prolongaria indefinidamente.
 Ao longo dos anos esta ação foi-se sempre alargando no tempo e no espaço num movimento gigantesco, espalhando felicidade e alegria.
Hoje em dia o Planeta da Matemática, o tal que tem forma de esfera um pouco achatada nos polos, adormece em paz e tem sonhos maravilhosos que o fazem sorrir, mesmo a dormir… 

 
É por isso que, quando abrimos o nosso livro de Matemática, nos deparamos com figuras geométricas coloridas; sólidos geométricos alegres e brincalhões que se encavalitam uns nos outros; isometrias cheias de movimentos elegantes; símbolos matemáticos saltitantes; potências cheias de força e de vontade de viver; frações que se juntam umas às outras para formarem números inteiros, porque “A união faz a força”; expressões numéricas de expressão sorridente; problemas que sempre têm solução… 

 

FIM 

Autores:

                Gonçalo Pinto Teixeira – 6ºD
                Rui Pedro Remuge Pinheiro – 6ºD
                Madalena Filipa Monteiro Remuge – 6ºD
                João Manuel Cardoso da Silva – 6ºD

Professora responsável:

                Maria do Céu Freitas da Silva Pereira

Escola:
                E. B. 2,3 de Souselo – Agrupamento de Escolas de Souselo - 2012/2013
 
 
 
A Biblioteca Escolar dá os parabéns aos autores deste fantástico conto!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

António Mota - Biografia

António Mota nasceu em Ovil, Baião, em 16 de Julho de 1957 e é um escritor português. Foi professor do ensino básico. É considerado um dos mais importantes autores portugueses de literatura infanto-juvenil. Publicou o seu primeiro livro, “ A Aldeia das Flores ”, em 1979. Com a obra “O Rapaz de Louredo” (1983) ganhou um prémio da Associação Portuguesa de Escritores. Em 1990, recebeu o Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens pelo seu romance “Pedro Alecrim”. Em 1996, ganhou o Prémio António Botto com “ A Casa das Bengalas”. Em 2003, a obra “O Sonho de Mariana”, ganhou o Prémio Nacional de Ilustração, com ilustrações de Danuta Wojciechowska. Esta obra foi escolhida pela Associação de Professores de Português e Associação de Profissionais de Educação de Infância para o projecto "O meu brinquedo é um livro". Em 2004, recebeu o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens, na modalidade de livro ilustrado, pela obra, “Se eu fosse muito Magrinho”, com

Árvore dos Afetos - Dia de S. Valentim

Para assinalar o Dia de S. Valentim, a Biblioteca Escolar promoveu uma atividade intitulada "Árvore dos Afetos" . Os alunos redigiram mensagens de amor ou amizade que utilizaram para decorar os ramos da árvore, em exposição na Biblioteca Escolar. A atividade decorreu entre os dias 11 e 16 de fevereiro de 2016.       Que as manifestações de afeto não se fiquem apenas por este dia!  

PNL - Biografia de António Torrado

António José Freire Torrado. Nasceu em Lisboa em 1939. É um dos nossos melhores escritores. É também poeta, dramaturgo, ficcionista, novelista, professor, contador de histórias, jornalista, editor e director de produção na TV… Publicou o 1º livro aos 18 anos e não mais parou, tendo já mais de cem obras editadas. É formado em Filosofia pela Universidade de Coimbra, foi professor do ensino secundário, mas em meados dos anos 60 foi afastado deste cargo por motivos políticos. É mais conhecido como escritor de livros para crianças. Por isso, conseguiu vários prémios, destacando-se, em 1980, o prémio Calouste Gulbenkian de livros para crianças, em 1984, o prémio de Teatro Infantil da Secretaria de Estado da Cultura e em 1988, o Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças. É ainda autor de manuais escolares e actualmente é Coordenador de Cursos na Fundação Calouste Gulbenkian e professor na Escola Superior de Teatro e Cinema. É também dramaturgo na companhia de Teatro Comuna